Relacionamento Permanente com DEUS.
Aos 18 anos conheci Jesus de Verdade (e da Verdade) e aprendi
sobre a importância de se manter um período devocional diário com Deus. Tanto
por preceitos, como pelo exemplo de meus sogros Ilma e Sebastião, que me
adotaram (natural e espiritualmente) e me ensinaram que devemos cultivar este
tempo à parte com o Senhor.
Há algo poderoso por trás desta prática, como estaremos
analisando. Mas preciso admitir que mesmo aprendendo que todo cristão deva ter
seu período devocional com Deus, falhei centenas e centenas de vezes no que diz
respeito a isto. Falhei em períodos em que não estive tão intensamente
envolvido com Deus e seu reino, mas falhei também depois de estar bem
comprometido com o Senhor e ministerialmente amadurecido. Portanto, quero
iniciar nossa reflexão declarando que nem sempre erramos por falta de conhecer
determinados princípios bíblicos, mas muitas vezes por mera falta de
disciplina.
Sei que a maioria dos crentes de hoje não costuma investir
diariamente num período de devoção com Deus. Muitos cometem este erro por falta
de ensino e esclarecimento, outros por falta de cobrança e estímulo e, claro,
há ainda aqueles que erram por pura negligência. Não quero me dirigir a um ou
outro grupo em separado, mas aos três. Aos que conhecem a base bíblica deste
princípio, convido-os a reverem aquilo que um dia aprenderam e dedicar-se à
prática. Aos que estão recebendo este ensino pela primeira vez, apelo para que
absorvam estes princípios e passem a vivê-los. Quanto aos deliberadamente
negligentes, espero que se arrependam e também ordenem seus passos nesta área.
Precisamos compreender o valor e resultados provenientes do
devocional diário. Então seremos estimulados a trazê-lo para a experiência
diária. E ao fazê-lo, entraremos numa dimensão mais profunda de intimidade com
o Senhor.
Deus espera que o busquemos todos os dias. Isto parece ficar bem
claro na oração-modelo que Jesus nos ensinou: “...o pão nosso de cada dia nos
dá hoje...” (Mt.6;11). Jesus ensinou a nos colocarmos diariamente diante do Pai
Celeste e buscar sua provisão para aquele dia. E quanto ao dia seguinte? Devemos
voltar a buscar ao Senhor a cada novo dia. Cristo declarou: “Portanto não vos
inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao
dia o seu próprio mal.” (Mt.6:34).
Mesmo sendo ensinados a depender de Deus para nossa provisão, o
que percebemos é que o caminho bíblico proposto é ir a Ele em oração
diariamente. E que as respostas divinas vêm em cotas “diárias”, não mais do que
isto. Há uma relação entre este ensino do Senhor Jesus e o que ocorreu nos dias
de Moisés quanto ao maná, o pão do céu.
Depois que a nação de Israel deixou o Egito, e saiu pelo deserto,
em direção a Canaã, viu-se em dificuldades para ter seu próprio alimento, uma
vez que, em viagem, não tinham tempo nem condições para plantar e colher. E
começaram a murmurar contra Deus e contra Moisés. E o relato bíblico nos revela
o que aconteceu:
“Então o Senhor disse a Moisés: eis que vos farei chover do céu
pão, e o povo sairá, e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu
ponha à prova se anda na minha lei ou não.”
Êxodo 16:4
A cada novo dia os israelitas tinham que se levantar em busca do
pão. Deus queria que fosse exatamente assim.
“Disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para a manhã seguinte.
Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, e alguns deixaram do maná para o dia
seguinte; porém deu bichos e cheirava mal. E Moisés se indignou contra eles.
Colhiam-no, pois, manhã após manhã, cada um quanto podia comer; porque, em
vindo o calor, se derretia.” Êxodo
16:19-21
O que temos aqui não é só uma lição de dependência, mas os
parâmetros divinos para a forma 2 de seu
povo se relacionar com Ele! Parece-nos que era justamente isto que acontecia no
Jardim do Éden, onde Deus visitava seus filhos na viração do dia (Gn.3:8). O
plano de Deus para nosso relacionamento com Ele envolve a busca diária. Mas
temos uma inclinação a errar justamente aí. É só observar o que ocorreu com os
israelitas no deserto: mesmo sendo advertidos para não colher mais do que a
porção diária do maná, alguns deles tentaram fazê-lo.
Porquê?
Por puro comodismo, para não precisar levantar cedo e ter o mesmo
trabalho no dia seguinte, uma vez que quando o sol se levantava, o maná
derretia.
A humanidade vive procurando atalhos para todas as coisas. Como
diminuir o serviço e tornar tudo mais cômodo parece ser uma das áreas em que
mais vemos progresso e avanços tecnológicos! A idéia é simplificar tudo o que
for possível. As crianças de hoje só usam fraldas descartáveis; temos o freezer
e o microondas; a embalagem longa vida; o telefone celular, e uma infinidade de
outras coisas que foram inventadas em nome da praticidade. E não estou
reclamando. Eu, como a maioria, gosto disto. Mas temos transportado esta idéia
para o nosso relacionamento com Deus. Isto ocorre desde o início da humanidade.
Os israelitas demonstraram estar dentro deste mesmo tipo de pensamento quando
acharam que poderiam “driblar” a regra da busca diária. E nós também
continuamos presos à mesma forma de pensar, milhares de anos depois.
Não há meios de se trabalhar com estoque, no que diz respeito à
presença de Deus. Devemos buscá-lo a cada novo dia. O que experimentamos dele
num dia, não servirá para o dia seguinte. Este princípio aparece muito na
simbologia bíblica. Através do profeta Jeremias o Senhor repreendeu seu povo
por não praticar um princípio essencial no relacionamento com Ele: o de
reconhecê-lo como manancial de águas vivas.
MANANCIAL
OU CISTERNA
“Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o
manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm
as águas”.
Jeremias 2:13.
Naqueles dias não havia água encanada, e o povo dependia dos
mananciais para sua sobrevivência. Entretanto, tanto pela falta do manancial
como pelo comodismo de não precisar buscar água todos os dias, as pessoas passaram
a usar cisternas. A cisterna era um reservatório de água de chuva, e era muito
prática, uma vez que evitava o trabalho de se ir diariamente atrás de uma
fonte.
Temos muitos exemplos bíblicos de pessoas indo aos poços para
buscar água. Isto era algo comum a todos, razão pela qual Deus escolhe
justamente esta figura para ilustrar a verdade espiritual que o seu povo
necessitava ouvir e entender.
Qualquer um sabe que há uma diferença na qualidade da água
proveniente da fonte e do poço. Mas o que Deus está dizendo não é algo ligado à
qualidade da água, mas ao fato de que, espiritualmente falando, as cisternas
não funcionam. Deus chamou as cisternas que seu povo vinha cavando de rotas,
que não podiam reter as águas. Portanto, nesta comparação que o Senhor faz, a
conclusão é única: quem bebe da fonte tem a água, enquanto que quem tenta a
cisterna acaba ficando sem água!
Muitos de nós achamos que é possível “driblar” o princípio da
busca diária e tentamos “encher nosso reservatório” nos cultos. Há pessoas que
durante toda a semana não oram e nem lêem a Bíblia, mas acham que um culto é
suficiente para mantê-las abastecidas. Era disto que Deus falava. Porque
preferimos encher nossa cisterna em vez de ir diariamente à fonte?
Talvez por mero comodismo, mas o fato é que temos falhado numa
área vital de nosso 3
relacionamento com o Pai Celeste. Ninguém sobrevive de estoque em sua vida
espiritual. Não existe uma espécie de “crente-camelo” que enche o tanque e agüenta
quarenta dias no deserto!
Creio que esta é uma área importantíssima a ser ordenada em nossas
vidas. Não há nada que nos leve a estar mais próximos de Deus do que o
relacionamento diário. Esta idéia de beber da fonte é usada por Deus em toda a
Bíblia, e penso que isto serve para cultivar em nós uma mentalidade correta de
nosso relacionamento com Ele; veja alguns destes textos:
“Respondeu-lhe Jesus: Se tivesses conhecido o dom de Deus e quem é
o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe terias pedido e ele te haveria dado água
viva.
Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter
sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der se fará nele uma fonte de
água que jorre para a vida eterna”.
João 4:10,13,14
“Ora, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo:
Se alguém tem sede, venha a mim e beba.
Quem crê em mim, como diz a escritura, do seu interior correrão
rios de água viva”.
João 7:37,38
“Pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e
os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda
lágrima”.
Apocalipse 7:11
“O Espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ouve diga: Vem.
Apocalipse 22:17
PRECISAMOS
DE TEMPO AOS PÉS DO SENHOR
Muitas vezes estamos tentando agradar a Deus com nosso trabalho,
mas o mais importante para Ele é quando nos assentamos aos seus pés. Nosso
serviço é importante, mas estar com o Senhor, gastar tempo em sua presença é
muito mais. Além de que, depois de um tempo de um comunhão o serviço se torna
mais eficaz.
Observe um episódio que Deus fez questão que fosse registrado para
nosso ensino:
“Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa
mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa.
Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do
Senhor, ouvia a sua palavra.
Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e
aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado
servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.
Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada
com muitas coisas; entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria
escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.”
Lucas 11:38-42.42
Enquanto Marta corria, Maria estava aos pés do Senhor. Todos
conhecemos a história, mas fazemos questão de permitir que ela continue se
repetindo... Muitos de nós só conseguimos pensar nos compromissos diários, na
agenda cheia, em como fazer tudo, etc.
Preocupamo-nos com coisas que não mereciam tanta atenção.
Deixamos que o “urgente”tome o lugar do “importante”.
Sei muito bem do que estou falando não só pelo convívio com outras
pessoas, mas por mim mesmo. Por natureza sou alguém agitado, que não gosta de
ficar parado. Se deixar, não paro um instante, sou como Marta. Mas tenho
aprendido que na vida com Deus, as coisas são diferentes. Aprendi desde o
início da minha caminhada com Ele, que a chave de tudo é o tempo investido em
relacionamento com o Pai. E apesar, de por temperamento ser uma pessoa mais
parecida com Marta, por princípio bíblico tenho forçado meu comportamento a se
ajustar ao de Maria. Às vezes tenho as minhas recaídas, mas luto comigo mesmo,
pois quero o melhor de Deus! Ninguém tem o direito de se desculpar dizendo: -
“Este é o meu jeito de ser”! Se Deus nos fizesse de modo diferente uns dos
outros no que diz respeito a buscá-lo, estaria sendo injusto conosco; estaria
dando a um condições de agrada-lo e a outro não. Mas isto não é mera questão de
temperamento, e sim de comportamento. Precisamos aprender as prioridades
corretas para crescer espiritualmente. Falta de tempo com Deus é o maior
obstáculo ao crescimento do crente.
Costumamos permanecer tão cegos em nosso comportamento errado que
às vezes tentamos até convencer Deus de que estamos certos. Marta foi pedir a
Jesus que fizesse Maria se levantar e ajudar, e estava certa de que Jesus
agiria de forma justa, mas não esperava que naquela situação a errada fosse
ela. Tentou convencer até o próprio Jesus da importância de sua “correria”. De
modo semelhante, muitas vezes estamos errados e tentando convencer-nos (e aos
outros) do contrário.
Contudo, as palavras de Jesus são muito fortes, contundentes:
“...poucas coisas são necessárias, ou mesmo uma só...” O que Ele estava dizendo
a Marta? Que de toda a nossa correria, poucas coisas são realmente uma
necessidade. Muito do que julgamos ser necessário, na verdade não é. Por
exemplo, observe nosso consumismo e veja como criamos necessidades: quem não
tem uma TV “precisa” de uma; quem tem uma TV de 14 polegadas, “precisa” de uma
de 20; quem já tem uma de 20 polegadas, “precisa” de uma de 29, e a coisa nunca
para! Quem não possui um telefone celular “precisa” de um, mas depois que já o
tem, “precisa” trocá-lo por um modelo menor e melhor, e o ciclo nunca pára!
Fazemos o mesmo na administração de nossa agenda diária; assimilamos muita
coisa que poderia esperar como se o mundo fosse acabar em dois dias. E o
resultado não é só estresse, mas falta de poder espiritual. A presença de Deus
é um refrigério, e devemos cultiva-la com dedicação.
O Senhor Jesus declarou: “poucas coisas são necessárias, ou mesmo
uma só”. Penso que com esta frase Ele na verdade estava dizendo: - “Pode
enxugar sua agenda que a maioria de seus compromissos não são assim tão
importantes. E se tiver que escolher uma única coisa para fazer, fique em minha
presença”.
Não estou dizendo que ninguém deva parar de trabalhar, estou
falando principalmente de coisas que não precisam necessariamente acontecer
naquele momento. Por exemplo, muitos de nós “precisamos” assistir ao noticiário
todos os dias. Será que precisamos mesmo? Muitos de nós “precisamos” nos
divertir com um bom filme. Mas será que não dá para dar um intervalo maior de
dias entre um entretenimento e outro?
Você pode se questionar sobre muita coisa que faz, mas o fato é
que se você tivesse que fazer restar uma única atividade em seu dia, por ser a
mais importante, ou a única que verdadeiramente possa ser chamada de
necessidade, deveria ser a de estar aos pés do Senhor.
O evangelista Moody, defensor deste tipo de pensamento (como todo
homem que Deus já pôde usar de modo especial), declarou o seguinte: “Um dos
mais claros sinais dos tempos é que muitos cristãos, em nossas associações de
moços e igrejas, estão guardando diariamente a ‘hora tranquila’. Nesta era de
correria e incessantes atividades, precisamos de algum chamado especial para
nos retirarmos e nos colocarmos a sós com Deus por um tempo, todos os dias.
Qualquer homem ou mulher que assim proceder, não conseguirá passar
mais que vinte e quatro horas longe de Deus”.
Moody chamava o momento devocional de “a hora tranquila”. Mesmo
que nossa vida se resuma 5 em muita
correria, deve haver um momento quando consigamos desacelerar para estar a sós
com Deus.
AFIANDO O
MACHADO
A falta de tempo com Deus impede-nos de servi-lo melhor. E atualmente até mesmo
muitos ministérios estão sendo formados de maneira errada! São ensinados a
fazer, fazer e fazer, mas quando investimos tempo a sós com o senhor,
aumentamos o proveito do serviço depois. Veja este princípio bíblico:
"Se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então
se deve por mais força; mas a sabedoria é proveitosa para dar
prosperidade."
Eclesiastes 10:10
Quando o rei Salomão foi inspirado pelo Espírito Santo a escrever estas
palavras, não nos deixou apenas um princípio natural, mas, paralelamente
estabeleceu um fundamento espiritual.
Assim como a sabedoria de afiar o corte do machado no rachar
lenhas torna o trabalho mais eficaz, também há recursos espirituais que
tornarão nosso andar em Deus mais frutífero.
Se o machado de um lenhador encontra-se embotado, sem corte, ele
tem que empreender muito mais força e energia em seu trabalho, consumindo assim
mais do seu tempo. Mas ao investir uma parte do seu tempo afiando o corte do
machado, no fim terá economizado tempo e energia.
A partir do momento que a ferramenta tem melhor corte, será o
corte que determinará o resultado, e não a força do golpe na lenha. Resumindo:
Se tentarmos economizar o tempo que usaríamos dando manutenção à ferramenta,
acabaremos perdendo mais tempo ainda no trabalho que executamos.
O povo de Deus precisa aprender urgentemente esta lição! O que
precisamos aprender e provar na prática, é que o tempo gasto com Deus é o
machado sendo afiado. Se economizarmos nesta prática, perderemos muito mais
tempo e energia depois e não conseguiremos fazer tão bem o serviço...
NOSSA PRIORIDADE DIÁRIA
Agora chegamos num ponto importante. Sabemos que precisamos estar
com Deus. E que isto deve acontecer todos os dias. E que este encontro não
precisa durar o dia todo. E que a maior desculpa que damos é que, em meio à
correria, não nos sobra tempo para isto. Portanto, o melhor remédio para isto é
fazer de seu período devocional com Deus a primeira atividade do dia. Se você o
faz antes das outras coisas, não corre o risco de acabar ficando sem fazer.
O que fazemos quando nos encontramos financeiramente “apertados”, e temos
várias contas a pagar, sabendo que talvez naquele dia ou semana não haja
recursos suficientes para pagar tudo? A maioria de nós tem experiência nisto.
Começamos pagando as contas mais importantes, as prioritárias. E o resto
ajusta-se depois. Se conseguirmos transferir a mesma mentalidade e raciocínio
para a prática do devocional, tudo será diferente. Estar com Deus é a conta
prioritária a ser paga a cada dia, portanto devemos começar por ela, e o resto
vai ajustando-se como der!
No início deste estudo usamos o exemplo do maná como uma figura
desta busca diária. E o maná tem uma figura que se encaixa bem naquilo que
estamos falando. Se ele não fosse colhido logo cedo, se derretia com o Sol.
Em outras palavras, ou a pessoa começava seu dia com aquela
atividade prioritária, ou acabava ficando sem ele. Com nosso devocional não
deve ser diferente. Jesus nos deixou o exemplo:
“De madrugada, ainda bem escuro, levantou-se, saiu e foi a um
lugar deserto, e ali orava.”
Marcos 1:35
De modo semelhante ao ato dos israelitas de colher o maná antes do Sol se
levantar, Jesus muitas vezes saía cedo de casa a fim de estar a sós com o Pai
Celeste. Aqui ainda vemos outro princípio importante para nosso devocional: o
texto diz que Cristo “foi a um lugar deserto”, o que fala da importância de
estar a sós com Deus neste momento.
Estou convicto de que não há hora melhor para se ter o devocional
do que ao amanhecer o dia. Lemos no Velho Testamento:
“De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã te apresento a
minha oração e fico esperando”.
Salmo 5:3
A oração sempre será algo abençoador, mas quando Deus dá ênfase ao
fato de busca-lo logo de manhã, está valorizando aqueles que decidiram estar
com Ele como a sua prioridade do dia. Buscar ao Senhor no início do dia é
honra-Lo como o que de mais importante temos. E Deus está realmente interessado
nisto! Veja o que o profeta Isaías declarou:
“O Senhor Deus... me desperta todas as manhãs, desperta-me o
ouvido para que eu ouça como os eruditos”.
Isaías 50:4
Se dermos esta liberdade ao Senhor, priorizando o tempo com Ele,
certamente perceberemos que o maior interesse neste tempo de qualidade ao
início do dia, é do próprio Deus. Isaías afirmou que o Senhor o despertava para
ter este tempo de comunhão. Para Moisés, Deus também fez este tipo de convite:
“Subas pela manhã... e... põe-te diante de mim no cume do monte”.
Êxodo 34:2
Qual era a importância de subir ao monte pela manhã? A única que temos
enxergado em cada versículo até agora: dar ao Senhor as primícias do dia.
RAÍZES
SANTAS
“E, se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua
totalidade; se for santa a raiz, também os ramos o serão”.
Romanos 11:16
Com base nesta afirmação bíblica, Andrew Murray declara em seu
livro “A Vida Interior” o seguinte: “Se as primeiras horas da manhã forem
consagradas ao Senhor, o restante do dia com as suas diversas tarefas também o
será”. Ele chamava a prática deste princípio de “a hora matinal”. Acredito
piamente neste princípio. Se santificamos as primícias do dia, santificamos o
dia todo!
Assim como nosso corpo despoja-se de seu cansaço na noite de sono,
levantando-se renovado ao amanhecer, também algo precisa acontecer com nosso
espírito. Não podemos ignorar o fato de que o crente precisa de renovação
diária em seu relacionamento com Deus. É como no caso do maná. O que se colhe
num dia, dura só para aquele dia. E a cada novo dia temos que buscar ao Senhor
novamente. Quando aprendemos a prática do devocional diário, estamos dando um
passo vital para andar em renovação espiritual:
“Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso
homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em
dia”.
II Coríntios 4:16
Ao usar a expressão “nosso homem interior se renova de dia em
dia”, a Bíblia está nos apresentando a visão de que na vida cristã todos
precisamos de RENOVAÇÃO DIÁRIA. Por outro lado, ao afirmar: “mesmo que o homem
exterior se corrompa”, penso que as Sagradas Escrituras estavam falando de duas
coisas: da deterioração física do envelhecimento natural, e também da corrupção
do pecado. Tanto em uma como em outra, a idéia é a de que dia após dia estamos
nos “estragando” por fora, em nossa carne. É por isso que precisamos passar por
um processo de renovação diária em nosso íntimo, no homem espiritual. E se
investimos nesta prática, não seremos tão duramente afetados pela força do
pecado.
Nosso espírito e nossa carne combatem entre si (Gl.5:16), e quanto
mais fortalecemos a um deles, maior a probabilidade de vitória nesta luta.
Portanto, precisamos alimentar diariamente nosso espírito em momentos de
devoção ao Senhor. Por isso é tão importante que tenhamos um tempo diário
meditando na Palavra, orando, adorando ao Senhor.
COMO FAZER
O DEVOCIONAL?
Muitos nos perguntam como podem conduzir seu tempo devocional.
Isto é algo pessoal, e acima de tudo, devemos ser sensíveis ao Espírito Santo.
Mas há algumas coisas que precisam estar presentes neste momento, e queremos
dar algumas sugestões quanto a estas práticas indispensáveis para o momento
devocional. São elas: a meditação bíblica, a oração e a adoração.
MEDITAÇÃO BÍBLICA - Nos dias do Antigo Testamento (e mesmo até
séculos recentes) as pessoas não dispunham de cópias das Escrituras. Alguns -
como os sacerdotes e escribas, por exemplo – tinham acesso diário às
Escrituras, mas a maioria não. Eles dependiam das reuniões públicas para
semanalmente ter algum contato com a Palavra. Penso que esta foi a única razão
pela qual Deus não exigiu de todos a leitura diária das Escrituras, mas ainda
assim, de alguns isto era exigido, como no caso dos reis:
“Também, quando se assentar no trono de seu reino, escreverá para
si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas e
sacerdotes. E o terá consigo e o lerá todos os dias da sua vida, para que
aprenda a temer ao Senhor, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta
lei e estatutos, para os cumprir”.
Deuteronômio 17:18,19.
Foi por ter este contato diário com as Escrituras que Davi pode
escrever um Salmo tão belo como o 119. Creio que Deus espera daqueles que
desejam viver próximos dEle, um tempo diário com sua Palavra, que envolve pelo
menos três atividades distintas além da leitura em si:
Falar (confissão e testemunho aos outros);
Meditar (refletir, analisar cuidadosamente);
Praticar (viver o que está escrito, obedecer).
Veja o que Deus disse a Josué:
“Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e
noite, para que tenhas o cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está
escrito; então, farás prosperar o seu caminho e serás bem-sucedido”.
Josué 1:8
ORAÇÃO - Já vimos que Jesus nos ensinou em seu modelo de oração a
estarmos diariamente perante Deus. Esta deve ser uma prática diária, o que
percebemos na frase: “o pão nosso de cada dia...”; portanto, também deve estar
em nosso momento devocional diário.
Este tempo deve envolver os diferentes tipos de oração, como por
exemplo:
Confissão (tanto de nossos pecados como também das promessas
bíblicas que nos dizem respeito);
Súplica (aqui se enquadram nossas petições);
Intercessão (quando oramos por outros – nossos familiares,
discípulos, vizinhos, etc.);
Ações de graça.
Oração no Espírito (em outras línguas).
A oração do “Pai-Nosso” é um excelente modelo de oração; suas frases
nos dão uma direção para as áreas importantes a serem abordadas em nossa oração
diária.
Louvor e Adoração – Esta também é uma prática diária. Davi
declarou:
“Todos os dias te bendirei e louvarei o seu nome para sempre”
Salmo 145:2
O tempo de adoração pode envolver cânticos conhecidos e
espontâneos, bem como declarações de amor e exaltação. Alguns gostam de
utilizar músicas gravadas num CD nestes momentos, o que também deve ser visto
como um acréscimo ao momento de adoração. Ouvir louvores não substitui o
louvar; são duas coisas distintas. Mas acompanhar o louvor gravado não deixa de
ser um bom recurso...
CONCLUINDO
Além de saber que devemos ter nosso período devocional diário (e
matinal) com Deus, e conhecer algumas das práticas indispensáveis a este momento,
penso que devemos também compreender a quietude e privacidade que devem estar
presentes neste momento.
Acredito que há algo poderoso na oração coletiva, e devemos
aprender a orar com outros irmãos, bem como com a Igreja toda reunida. Mas a
força do período devocional com Deus reside no princípio de estar a sós com
Deus. Isto não só nos ajuda a cultivar a intimidade com o Senhor, como também é
um mandamento de Cristo:
“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta,
orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará”.
Mateus 6:6
Estar a portas fechadas com Deus é uma necessidade de cada um de nós. Ali não
só pedimos, mas adoramos e nos rendemos com total liberdade de rasgar o
coração. Assim como um casal tem seus momentos de privacidade longe da vista de
todos, penso que devemos cultivar momentos de comunhão com o Noivo que também
sejam marcados pela privacidade.
Se você não tem meios de se trancar, pelo menos procure se afastar
das demais pessoas para ter este momento. Certamente esta prática diária te
levará a um novo nível de relacionamento com Deus!